Eis uma das perguntas frequentes no que se refere ao atendimento psicanalítico. Quem pode fazer uma análise? Haveria alguma distinção em relação aquele que a psicanálise pode atender? Ela seria apenas para adultos? Os adolescentes podem fazer uma análise? E as crianças, seria possível uma análise para elas? A fim de contemplar essas questões, é necessário apresentar a noção psicanalítica de sujeito. Por isso, recolho algumas ideias de O conceito de sujeito, do psicanalista Luciano Elia, livro publicado em 2010 pela editora Jorge Zahar.
Noções de sujeito
É sabido que várias áreas do conhecimento desenvolveram noções sobre o sujeito. A filosofia, por exemplo, deteve-se também nesta seara. Um de seus expoentes, entre tantos outros, seria Michel Foucault com A hermenêutica do sujeito. A psicanálise, por sua vez, conferiu um lugar especial ao sujeito. Contudo, este espaço não leva em conta uma cronologia marcada por idades, estágios de desenvolvimento ou de maturação. Se é adolescente, adulto ou criança, não é disso que se está se falando. Afinal, se o conceito de sujeito em psicanálise não parte deste princípio, o que ele seria e como viria a surgir?
Lugar especial para falar
Para a teoria psicanalítica o sujeito é do inconsciente. Ele não está presente o tempo todo, mas costuma ter lugar em momentos e condições especiais. Por exemplo, em uma análise através de uma experiência bem característica da fala. Esta consiste na “associação livre”, conhecida como “fale o que lhe vier a cabeça.” Trata-se de não qualificar o que vier a dizer com julgamentos, críticas e não considerar que os pensamentos sejam absurdos e inaceitáveis e as lembranças tolas e bestas. Logo, é não dar valores e significações conhecidas ao que vier a dizer.
Saber nas falhas da fala
Essa forma especial de falar em uma análise cria condições para que o sujeito do inconsciente surja. Ele aparece nos atos falhos, nos sonhos, nos lapsos, nos esquecimentos, nos chistes. Portanto, nos tropeços, nas vacilações daquele que fala. Deste modo, o sujeito poderá ser reconhecido pelo falante. Esse reconhecimento o tornará não mais o mesmo por perceber algo que até então não lhe era conhecido, mas que faz parte dele: um saber que se manifesta nas e pelas falhas da fala.
Via de acesso
Assim, em psicanálise usamos as palavras de tal forma que elas se tornam uma via de acesso à cena do inconsciente, onde o sujeito poderá emergir, seja no infante, seja no adulto.