Como surgiu a psicanálise?

Desde seus primórdios até os nossos dias, a psicanálise consiste em ser um tipo de tratamento terapêutico baseado na fala e na escuta. Mas e aí? Como surgiu a psicanálise? Como ela se tornou esse Fale que eu te escuto capaz de curar sofrimentos psíquicos?

Para responder essas perguntas, é preciso voltar no tempo, mais precisamente ao final do século 19, para contar o início da trajetória de um jovem médico, judeu e vienense que criou e desenvolveu a psicanálise a ponto de fazê-la atravessar séculos e ainda permanecer em nossos tempos.

O início da psicanálise

A psicanálise surgiu a partir da experiência clínica do médico e neurologista Sigmund Freud. Ele nasceu em 1856 na cidade de Freiberg (hoje Pribor, Morávia Áustria) e viveu desde os 4 anos em Viena. Em 1938, mudou-se para Londres, fugindo das perseguições do regime nazista de Hitler. Morreu no ano seguinte em função de um câncer.        

Freud iniciou seus estudos em medicina aos 17 anos e formou-se em 1881. Além de se interessar pela psiquiatria e neurologia, ele queria avidamente entender a natureza humana, investigar os enigmas da mente e da cultura. Essa inclinação tornou-se paixão de saber que o conduziu à criação da psicanálise e à descoberta do inconsciente.

Logo depois de formado, Freud teve contato com Dr. Joseph Breuer, um médicos dos mais respeitados da Áustria, que tratava a histeria por meio da hipnose. Tornou-se discípulo e colaborador deste médico por 14 anos. Durante essa época acompanhou alguns dos tratamentos conduzidos por Breuer. Um deles tornou-se notório: o caso clínico “Ana O.”, no qual a cura pela fala deu seus primeiros sinais. Ele foi narrado por Freud em Estudos sobre histeria, publicado entre 1893 e 1895 em co-autoria com Breuer, e é conhecido como “o início da psicanálise.”

Ana O.

Ana O. se chamava Berta Pappenheim. A austríaca foi atendida por Breuer entre os anos 1880 e 1882. Era uma jovem de 21 anos que foi acometida por perturbações histéricas. Durante as sessões, sob efeito da hipnose, ela era capaz de falar sobre memórias afetuosas que reprimidas lhe causavam sofrimento, e assim amenizava seus sintomas. Animada pelos efeitos das discussões sobre os afetos recalcados, Ana nomeou este método terapêutico de fala como “talking cure”, cura pela fala e “chimney-sweeping”, limpeza da chaminé.

Cura pela fala

Na sequência, Ana O. também foi paciente de Freud. Cada vez mais intrigado com as manifestações e o funcionamento do inconsciente, Freud abandona a hipnose e, atendendo a um pedido de Ana, deixa que ela fale livremente sobre suas experiências, o famoso Fale o que lhe vier à cabeça. Aí ele percebeu que colocar em palavras os sofrimentos permite liberar os afetos, tomar consciência deles e assim possibilita que cada um se aproprie de sua vida, de sua história de outra maneira.

A psicanálise nasceu a partir da escuta deste médico que descobriu uma forma de acolher e tratar o sofrimento psíquico. Ele recebia aqueles que os outros médicos não sabiam como tratar e se dispunha a escutar o que eles diziam sobre seus sintomas, que se expressavam em cegueiras, dores, paralisias. Assim inventou um método terapêutico e uma teoria que, além de intrigar a humanidade, não para de se refazer.

Fontes consultadas:

Imagem do consultório de Freud, do livro Sigmund Freud, Bergasse 19, Vienna, do fotógrafo Edmund Engelman, disponível em http://issocompensa.com/fotografia/o-diva-de-freud-e-outras-fotografias

Livro Freud, Uma vida para nosso tempo, de Peter Gay, publicado pela Companhia das Letras em 2012.

Revista Ler & Saber, edição sobre “Grandes nomes da psicanálise”, publicada em 2018 pela Alto Astral Editora.

Artigo “Como surgiu a psicanálise?”, de Elisabeth Almeida, publicado em  http://minutal.blogspot.com/2012/03/como-surgiu-psicanalise_25.html

Artigo “As origens da psicanálise”, publicado em https://www.sbpi.org.br/as-origens-da-psicanalise-o-fundador/