Manifestação, de Antonio Berni

Quem pode fazer uma análise?

Eis uma das perguntas frequentes no que se refere ao atendimento psicanalítico. Quem pode fazer uma análise? Haveria alguma distinção em relação aquele que a psicanálise pode atender? Ela seria apenas para adultos? Os adolescentes podem fazer uma análise? E as crianças, seria possível uma análise para elas? A fim de contemplar essas questões, é necessário apresentar a noção psicanalítica de sujeito. Por isso, recolho algumas ideias de O conceito de sujeito, do psicanalista Luciano Elia, livro publicado em 2010 pela editora Jorge Zahar.

Noções de sujeito

É sabido que várias áreas do conhecimento desenvolveram noções sobre o sujeito. A filosofia, por exemplo, deteve-se também nesta seara. Um de seus expoentes, entre tantos outros, seria Michel Foucault com A hermenêutica do sujeito. A psicanálise, por sua vez, conferiu um lugar especial ao sujeito. Contudo, este espaço não leva em conta uma cronologia marcada por idades, estágios de desenvolvimento ou de maturação. Se é adolescente, adulto ou criança, não é disso que se está se falando. Afinal, se o conceito de sujeito em psicanálise não parte deste princípio, o que ele seria e como viria a surgir?

Lugar especial para falar

Para a teoria psicanalítica o sujeito é do inconsciente. Ele não está presente o tempo todo, mas costuma ter lugar em momentos e condições especiais. Por exemplo, em uma análise através de uma experiência bem característica da fala. Esta consiste na “associação livre”, conhecida como “fale o que lhe vier a cabeça.” Trata-se de não qualificar o que vier a dizer com julgamentos, críticas e não considerar que os pensamentos sejam absurdos e inaceitáveis e as lembranças tolas e bestas. Logo, é não dar valores e significações conhecidas ao que vier a dizer.

Saber nas falhas da fala

Essa forma especial de falar em uma análise cria condições para que o sujeito do inconsciente surja. Ele aparece nos atos falhos, nos sonhos, nos lapsos, nos esquecimentos, nos chistes. Portanto, nos tropeços, nas vacilações daquele que fala. Deste modo, o sujeito poderá ser reconhecido pelo falante. Esse reconhecimento o tornará não mais o mesmo por perceber algo que até então não lhe era conhecido, mas que faz parte dele: um saber que se manifesta nas e pelas falhas da fala.

Via de acesso

Assim, em psicanálise usamos as palavras de tal forma que elas se tornam uma via de acesso à cena do inconsciente, onde o sujeito poderá emergir, seja no infante, seja no adulto.