“O mais profundo é a pele”

Sobre a pele que envolve, aquece, entontece. Sobre a pele que te vejo vibrar. Por sobre e no entre a pele: um sentido, uma palavra, um eco, um som vem marcar. Por sobre a minha pele, por sobre a pele tua: um limite. A pele é o limite do corpo, é o limite do meu lugar contigo e com o mundo. A pele, esta superfície porosa, me protege e me abriga, me expõe e me mostra. É um espaço íntimo meu, um espaço íntimo teu: mostra que o tempo fez suas marcas, que os sentimentos tiveram um lugar, que os desejos se inscreveram e movimentaram o corpo. A pele, esta superfície de toque, que toca o mundo e nos toca: superfície de contato do meu corpo com o teu. A pele: exala nossos cheiros, transpira nossos afetos. No papel da pele, no papel de uma página: as inscrições não são as palavras que escrevemos, mas os sons e o nonsense que reverberam em nosso corpo, são os significantes que escrevemos com ele. Sentimos as palavras quando um afeto toca nosso corpo e, ao chegar à superfície da pele, nos impele a escrever sobre uma folha de papel, uma página, um espaço em branco à espera das marcas que nos marcam e que deixamos no mundo. Antes de tudo e de qualquer coisa: o vazio.