Fragmento litorâneo – o menino e o desconhecido

Enquanto caminho na praia, vem ao meu encontro um menino.

Ele procurava bichinhos na areia molhada pelas ondas. Cavava com os pés, depois com as mãos. Tentava insistentemente lembrar do nome do crustáceo sem conseguir. O gosto desta iguaria marinha ele ainda não sentira. Mesmo assim, continuava a procurá-la. Pois, era sempre bom provar alguma coisa nova, dizia ele. Aos poucos, o menino se distancia de mim. Ele buscava aquilo que era bom e sem nome: o desconhecido.

Neste encontro ao acaso com o menino, escuto um gesto, uma decisão e uma posição que movimentam o ser. Não há nada mais desconhecido de antemão que o caminho que se traça com o desejo. Não se sabe aonde ele vai nos levar nem onde com ele vamos chegar. Aceitar seguir o desejo é um percurso errante, obscuro e que leva ao desconhecido. Aceitar seguir o desejo, assim como faz o menino nas areias da praia, é uma decisão difícil, mas um dia chega o momento em que não é mais possível recusar. E sim apenas seguir.